Esta caminhada começou há cerca de 14 anos quando um homem bom e amigo, o senhor Manuel Barreto, chamou a atenção de que o rio Tejo quase não levava caudal e que estavam a colocar mais fundo no leito do rio a bomba que alimenta o canal do parque ribeirinho da Barquinha.
Desde aí foi um desbravar no desconhecido para saber
mais, conhecer mais sobre o que se passava com o nosso rio, percebendo que
aquele acentuado subir e descer do caudal do rio, com variações superiores a 2
metros de nível na margem, não era normal e causava danos quer ao disfrute do
rio pelas pessoas, quer aos ecossistemas que integramos e dos quais dependem as
nossas Vidas.
Por mero ocaso, teve lugar em Vila Nova da Barquinha um
evento, “Salvar a Terra e a Água”, promovido pelo Instituto para a Democracia
Portuguesa, cujo presidente era Mendo Castro Henriques, e com a presença do
arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles e de Duarte Pio de Bragança, atual Duque de
Bragança.
Os laços estavam dados, os dados estavam lançados, o caminho estava traçado e a decisão estava tomada: era preciso agir e fazer alguma coisa, era preciso ir para a rua defender os caudais ecológicos no rio Tejo.
Dito e feito, no dia 20 de junho de 2009, a Barquinha
fez-se representar com 40 cidadãos numa manifestação de mais de 40 mil pessoas
que desfilaram nas ruas de Talavera de la Reina contra o transvase Tejo-Segura,
que desvia a água do Tejo e não permite que a água corra no médio Tejo em
Espanha.
A força do povo nas ruas, a defender o seu presente e
futuro foi a inspiração para o que estava para vir.
E o que estava para vir foi a união, a partilha, o
trabalho, a aprendizagem, a luta e o companheirismo que manteve juntos, ao
longo dos últimos 14 anos, os cidadãos e as organizações reunidas num movimento
cívico informal, o proTEJO – Movimento pelo Tejo.
Cidadãos que neste movimento continuam a defender um
bom estado ecológico das águas do rio Tejo e seus afluentes, lutando contra a
poluição do rio Tejo e seus afluentes, propondo alternativas aos novos açudes e
barragens que querem construir nos últimos 120 km de rio Tejo livre e
fundamentando a defesa de um regime de caudais ecológicos na fronteira de
Portugal e Espanha, na barragem de Cedillo.
Tivemos desilusões, mas já tivemos sucessos, como na
contenção da grande poluição que acontecia no rio Tejo, e por isso mesmo
esperamos conseguir que se implante um regime de caudais ecológicos na
fronteira com Espanha em resultado da denúncia[1]
que fizemos á Comissão Europeia pela sua ausência se constituir num
incumprimento das normas comunitárias, da Diretiva Quadro da Água, bem como da
legislação espanhola e portuguesa, além da própria Convenção de Albufeira,
acordada entre Portugal e Espanha.
E no dia 25 de Abril, em que festejámos os 50 anos de
liberdade, festejámos também o dia em que a implementação de um regime de
caudais ecológicos no rio Tejo por negociação com Espanha foi defendida pelo
professor Rodrigo Proença de Oliveira[2],
professor do Instituto Superior Técnico (IST), responsável pelo estudo das
disponibilidades hídricas de Portugal, em que se basearam os planos de bacia
hidrográfica de 2022-2027.
Pela especialidade nestas matérias, tinha já
participado como orador convidado pelo proTEJO no “Seminário - Tejo Vivo e
Vivido – Para a recuperação do rio Tejo e seus afluentes”, realizado em
Abrantes no ano de 2018, com os temas “O regime de caudais e o estado ecológico
na Convenção de Albufeira” e “A escassez de água na bacia do Tejo em situação
de seca periódica e alterações climáticas”.
Durante este caminho recebemos algumas sementes, plantámos
outras e outras têm sido amavelmente colocadas no caminho, no exato e único
momento em que devem ser plantadas para darem a melhor cepa, agregando-se tal
bola de neve que tudo une e agrega em cada metro percorrido, avolumando-se e
engrossando os cidadãos que se unem e o seu conhecimento sobre os mais belos
rios que são de todos nós e das nossas aldeias.
E um exemplo deste culminar, em que tudo recomeça, é a
realização do “Encontro Nacional de Cidadania pela
Defesa dos Rios e da Água”, no próximo dia 18 de maio, na Casa da Cultura
de Coimbra[3],
promovido por 70 organizações de seis movimentos cívicos, de norte a sul do
país, para definir medidas e formas de mobilização da cidadania para combater a
seca, assegurar a proteção de rios e das águas subterrâneas e encontrar
alternativas aos transvases e construção de novas barragens, açudes e
dessalinizadoras.
São sementes, senhor, são sementes!
Temos carregado esta quimera, esta responsabilidade, este
fardo, com a paixão, o gosto e a leveza de quem não quer deixar que as palavras
desse amigo tenham sido proferidas em vão, honrando todos os que vivem e amam o
rio.
E fazemo-lo inspirados por muitos de nós!
Que colocam a ecologia ao peito e
querem que a conheçamos.
Que fizeram um longo percurso de vida
a defender as nossas vidas com base na ecologia.
Que simplesmente, com o seu esforço e
empenho, se dispuseram a ajudar as nossas ações.
Que tiveram a coragem de defenderem a
nossa comunidade contra os poderosos poluidores.
Que estudam a natureza e a protegem
como um bem para a nossa vida.
Mantendo sempre a coragem de defender
as vossas convicções.
A todos vós a nossa gratidão, hoje e
aqui, por termos a honra de juntos percorrermos este caminho.
E por tudo isso queremos caudais
ecológicos já e para sempre!
Por todos nós, não vamos parar!
Enquanto houver estrada para andar, a gente vai
continuar!
Enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar!
Paulo Constantino
E continuamos
“Como um Rio d'agua” cantado por Syro e Gisela João
“Já não volto a quem fui
Eu aceito em
paz
Mas carrego em
mim
O que me desfaz
E as flores que
um dia reguei
Vi-as a crescer
e deixei
O tempo merecer
E sem dizer as
levou de mim
Como um rio de
água
A vida não para
de correr
E lavo a alma (alma)
Afogo a mágoa
que tiver
Como um rio de
água
Tu estendes a
mão para eu beber
Um rio de água
(água)
Um rio de água"
Compositores: Ariel / Filipe Survival
/ Riic Wolf / Syro / Gisela João
[1] Denúncia
à Comissão Europeia “Incumprimento da Diretiva Quadro da Água pela não
implementação de caudais ecológicos no rio Tejo por Espanha e Portugal” –
Consultar em: https://bit.ly/3veR6Hx.
[2]“Portugal
tem de negociar com Espanha caudais ecológicos para o Tejo” – Água &
Ambiente – 24/4/2024 - https://www.ambienteonline.pt/noticias/portugal-tem-de-negociar-com-espanha-caudais-ecologicos-para-o-tejo.
[3] “Encontro Nacional de Cidadania pela Defesa dos Rios e da Água” - Programa e + informação: https://linktr.ee/encontronacionaldefesariosagua ; Formulário de inscrição: https://forms.gle/PVoKhSR69RgqAMYYA.