Somos um movimento de cidadania em defesa do Tejo denominado "Movimento Pelo Tejo" (abreviadamente proTEJO) que congrega todos os cidadãos e organizações da bacia do TEJO em Portugal, trocando experiências e informação, para que se consolidem e amplifiquem as distintas actuações de organização e mobilização social.

domingo, 25 de setembro de 2011

CARTA CONTRA A INDIFERENÇA - CONSTÂNCIA - VILA NOVA DA BARQUINHA - 24 DE SETEMBRO DE 2011

O rio Tejo não é apenas água, é cultura viva, a espinha dorsal e o eixo, das terras e das aldeias por onde passa.
É com grande felicidade que vemos juntarem-se em defesa do Tejo todos os cidadãos e organizações aqui presentes, representativos de toda a bacia ibérica do Tejo e de todos os sectores da sociedade e áreas de acção, constituindo-se como um exemplo independente de participação e cidadania.
Nas nossas diferenças, o elo que nos une é o Tejo!
O mesmo Tejo que une toda esta bacia de Espanha a Portugal, que une todas as populações ribeirinhas e as suas culturas, que o conhecemos e o vivemos da nascente até à foz, de Albarracín ao Grande Estuário.
É também significativo vogar pelo rio Tejo desde a vila de Constância que simboliza o canto dos rios pelos nossos poetas até Vila Nova da Barquinha que teve a sua origem histórica numa intensa comunhão com o rio Tejo que sustentou as actividades agrícolas e comerciais das suas gentes.
As suas populações sobreviveram e prosperaram em harmonia com o rio que lhes foi generoso no passado e que será essencial no futuro.
Um futuro onde este laço de natureza e cultura perdure e se reforce com o regresso de modos de vida ligados à água e ao rio que as actividades de educação e turismo de natureza, cultural e ambiental permitirão sustentar.
A conservação do rio Tejo é um tributo que os cidadãos devem oferecer a este património, sendo urgente regulamentar uma gestão de barragens e açudes que garanta um regime fluvial adequado à prática de actividades náuticas e à migração e reprodução das espécies piscícolas, que integre verdadeiros caudais ecológicos e uma continuidade fluvial proporcionada por passagens para peixes eficazes.
Conhecemos os males de que o Tejo padece com os transvases, com o assoreamento, com a poluição, ou seja, o maltrato que a mão do homem tem vindo a infligir à sua água e aos seus ecossistemas.
Para conter essa mão que o maltrata temos que abrir a outra mão para que o proteja, e essa mão somos nós!
Por isso temos o dever de estender essa mão aberta para criar uma corrente de vontade e de intencionalidade, que seja capaz de esclarecer quem decide e que exija um tratamento ecologicamente sustentável para o rio Tejo.
Devemo-lo a nós próprios, que com o Tejo partilhámos a nossa vida e aceitámos a generosidade das suas águas.
Devemo-lo às gerações futuras para que conheçam um Tejo vivo, como nós o conhecemos, e não um escravo e prisioneiro do egoísmo e da especulação dos humanos.
Se continuarmos neste rumo, as próximas gerações já não conhecerão rios vivos, mas apenas imagens na internet... que serão sombras do que um dia nos foi oferecido com generosidade.
Por tudo isto, devemos unir-nos e reclamar a unidade e integridade do Tejo e da sua bacia, já que o amor e o respeito que por ele sentimos não se esgotam em nenhuma das fronteiras administrativas e artificiais que os homens impõem à natureza.
Para que as nossas mãos o protejam temos que as unir e coordenar, mostrando a união dos cidadãos portugueses e espanhóis na defesa do Tejo, enquanto bacia ibérica e internacional, e afirmar a nossa determinação para combater a indiferença ao maltrato que tem vindo a sofrer.
Assim, com vista a defender o Tejo e seus afluentes, e como cidadãos do rio Tejo, em Portugal e em Espanha, unimo-nos para reivindicar a todas as autoridades competentes, internacionais, nacionais, regionais e locais:
1º. A necessidade de uma gestão sustentável da bacia hidrográfica do Tejo;
2º. O cumprimento da Directiva Quadro da Água, ou seja, a garantia de um bom estado das águas do Tejo;
3º. O estabelecimento e quantificação de um regime de caudais ambientais, diários, semanais e mensais, reflectidos nos Planos da Bacia Hidrológica do Tejo, em Espanha e em Portugal, que permitam o bom funcionamento dos ecossistemas ligados ao rio;
4º. A monitorização do cumprimento permanente do regime de caudais ambientais;
5º. A recusa dos transvases do Tejo e o apoio à investigação de alternativas sustentáveis, baseadas no uso eficiente da água;
6º. A concepção de um projecto com vista ao desassoreamento do rio Tejo e à sua navegabilidade;
7º. A qualidade e quantidade de água do rio Tejo e dos seus afluentes, no sentido de garantir os diversos usos;
8º. A realização de acções para ajudar a restaurar o sistema fluvial natural e o seu ambiente;
9º. A valorização e promoção da identidade cultural e social das populações ribeirinhas do Tejo.
É isto que defendemos,
Que as nossas mãos unidas protejam o TEJO.
E digamos com Miguel Torga, porque os poetas sabem ver o futuro

Recomeça
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
O Tejo merece!

NOTA DE IMPRENSA - 25 DE SETEMBRO - VOGAR CONTRA A INDIFERENÇA - 2011

NOTA DE IMPRENSA
25 de Setembro de 2011
VOGAR CONTRA A INDIFERENÇA
CONSTÂNCIA - ALMOUROL - VILA NOVA DA BARQUINHA
3ª Mobilização Cidadãos pelo Tejo
24 de Setembro de 2011
Uma centena e meia de cidadãos participaram na descida de canoa a “VOGAR CONTRA A INDIFERENÇA” no dia 24 de Setembro de 2011 numa acção de mobilização dos cidadãos em defesa do Tejo e do património natural e cultural associado e protesto contra a sobre exploração a que o Tejo se encontra submetido em resultado do aumento dos transvases.
A actividade contou com a participação de cidadãos de ambos os lados da fronteira, provando-se que a defesa dos rios ibéricos ultrapassa as fronteiras administrativas e une os cidadãos com os mesmos problemas, independentemente da sua nacionalidade.
A iniciativa consistiu numa descida em canoa que teve início na praia fluvial de Constância, com paragem no Castelo de Almourol, e cuja expedição chegou ao seu destino no Caís da Hidráulica no Parque Ribeirinho de Vila Nova da Barquinha, realçando a beleza deste património natural e cultural associado ao rio.
Na praia fluvial de Constância procedeu-se à leitura da Carta Contra a Indiferença que evidenciou a necessidade de defender o rio Tejo da sobre exploração da água devido aos transvases da água do Tejo para a agricultura intensiva no sul de Espanha, e a importância do regresso de modos de vida ligados à água e ao rio que as actividades de educação e turismo de natureza, cultural e ambiental permitirão sustentar.
Esta actividade transmitiu aos participantes e às populações ribeirinhas a importância da conservação do rio Tejo focando a necessidade de uma regulamentação da gestão de barragens e açudes que garanta um regime fluvial adequado à prática de actividades náuticas e à migração e reprodução das espécies piscícolas, que integre verdadeiros caudais ecológicos e uma continuidade fluvial proporcionada por passagens para peixes eficazes.
No parque ribeirinho de Vila Nova da Barquinha foram por fim apresentados os vectores estratégicos da análise do projecto de Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica do Tejo cujo processo de participação pública se encontra actualmente em curso.
Com o apoio

terça-feira, 13 de setembro de 2011

UM RIO DE FELICIDADE - CRÓNICA "CÁ POR CAUSAS" - JORNAL A BARCA - 26 DE AGOSTO DE 2011

A felicidade tem vindo a ser considerada como “um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, bem-estar espiritual ou paz interior em que o sofrimento e a inquietude estão ausentes” e que abrange ainda “emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo”.
Para Rosseau é difícil ver homens felizes, mas vêem-se “muitas vezes corações contentes”, visto que a felicidade se lê no coração enquanto a alegria se lê nos olhos, no porte, no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se apercebe”, sublimando o doce prazer de “ver um povo entregar-se à alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das nuvens da vida”.
As emoções e o contentamento provocado pelo disfrute das águas que percorrem um rio numa corrente com destino de onda e desejo de mar será “fluviofelicidade”, um conceito criado pelo catedrático em Hidrogeologia e fundador da Fundaçao Nova Cultura da Água, Javier Martínez Gil, que tem tido muita aceitação entre os entusiastas dos desportos de aventura nos rios.
Este conceito pretende transmitir o prazer proporcionado pelo contacto com o meio fluvial, podendo sentir-se deslizando numa canoa pelas águas de um rio ou observando um pato que brinque às escondidas nos caniçais.
A teoria da “fluviofelicidade” defende que os rios geram “bem-estar e sentimentos de felicidade nas pessoas, sendo fontes de emoções e símbolos da vida, fertilidade, nascimento e renovação, fortemente arreigados na nossa cultura e fruto da interiorização de uma ligação especial entre o ser humano e a água que flui”.
A beleza dos rios gera bondade e transmite-nos a tranquilidade, o sossego e a liberdade de que necessitamos para alcançarmos a nossa própria felicidade interior, bem ilustrada na redenção e libertação que o Siddhartha de Hermann Hess alcança como barqueiro de um grande rio que tudo e todos percorrem, ao longo da vida e por todas as eternidades.
Defende ainda a valorização dos rios como património cultural e de identidade, sendo a sua defesa vital para as cidades e povoações situadas nas suas margens, que tendem a perder a sua personalidade quando os rios se degradam ou são desvirtuados os seus leitos.
A visão de um rio contaminado ou degradado transtorna-nos e traz-nos à consciência o vandalismo que nos rodeia, sendo um espelho de uma destruição que provoca défices de beleza que as experiências de “fluviofelicidade” podem ajudar a devolver ao proporcionarem o contacto com o melhor dos nossos rios.
Esta concepção assenta numa nova cultura da água e da vida que aponta os rios como a alma do território cuja destruição extingue a ligação do homem com o seu território.
A actividade VOGAR CONTRA A INDIFERENÇA, a realizar no próximo dia 24 de Setembro pelo protejo – Movimento Pelo Tejo, propõem-vos isto mesmo, uma descida de canoa de Constância a Vila Nova da Barquinha que será simultaneamente um tributo à conservação e à vivência da alegria festiva da “fluviofelicidade” no nosso rio Tejo.
E você está pronto para ser “fluviofeliz”?
Participe, o Tejo merece!
Paulo Constantino