Todas as palavras são poucas para qualificar o inqualificável!
Inacreditável, inconcebível, inaceitável, intolerável!
São estas as palavras que me ocorrem ao ver as imagens de milhares de
peixes que jazem mortos, desde 13 de Outubro, nas águas do Tejo sujo e poluído
entre Vila Vela de Ródão e a barragem do Fratel.
São as palavras que me ocorrem ao ver outros tantos milhares de peixes
a nadarem continuamente à superfície da água com as bocas fora de água para
poderem respirar o oxigénio que a água poluída não tem e que o buscam à
superfície.
E é com tristeza com que assisto às leis da natureza que se impõem
quando estes peixes obrigados a respirar à superfície da água são facilmente
pescados por bandos de gaivotas que subiram o rio ao adivinharem a tragédia e
se banqueteiam com presas tão fáceis.
O proTEJO já em 16 de setembro de 2017 tinha alertado que o rio Tejo
estava a ser vítima de eutrofização no alto Tejo trazendo consigo um tapete
verde de algas desde Espanha, da barragem de Cedilho, causado pela poluição e
pela redução do caudal, acontecimento cada vez mais frequente a colocar em
causa a qualidade da água, a sobrevivência das espécies piscícolas, as
atividades de lazer e a qualidade dos produtos agrícolas sujeitos à rega desta
água poluída.
Este tapete verde de algas consome o oxigénio da água e reduz os seus
níveis colocando os ecossistemas aquáticos em perigo de sobrevivência e,
consequentemente, matando os peixes.
E foi de Espanha que veio este tapete a verde de algas com origem nos
fertilizantes utilizados na agricultura intensiva, na eutrofização gerada pela
sua estagnação nas barragens da Estremadura e na descarga de águas residuais
urbanas das vilas e cidades espanholas sem o adequado tratamento.
À poluição que chega de Espanha acrescem as contínuas descargas
poluentes das celuloses de Vila Velha de Ródão que se acumulam até à barragem
do Fratel.
E não me custa a crer na insensibilidade ambiental destas empresas das
celuloses que sabem exatamente os danos e as perdas que as suas descargas
poluentes estão a causar ao rio Tejo, que sabem exatamente que estão a matar
todos os peixes e toda a fauna e flora do rio Tejo.
De entre estas empresas salientamos a Celtejo que aumentou a sua
produção a níveis para os quais não tinha capacidade de tratamento, antes de
terem concluído a construção de uma nova Estação de Tratamento de Águas
Residuais Industriais que tem sido apresentada pelo Ministro do Ambiente como
solucionadora do problema.
O proTEJO vem desde 2016 a solicitar que o Senhor Ministro do Ambiente intervenha no sentido de que sejam tomadas medidas para a contenção das descargas poluentes no rio Tejo na zona de Vila Velha de Ródão, nomeadamente, para garantir que as emissões de efluentes da Celtejo para o rio Tejo estejam dentro de parâmetros que garantam o objetivo de alcançar o bom estado ecológico das suas massas de águas ao longo de todo o seu curso em território português, seja pela maior fiscalização, seja pela revisão ou suspensão das licenças de emissão de efluentes.
Todos estes poluidores contribuíram e acentuaram a carência de oxigénio
dissolvido nas águas do rio Tejo e são assim responsáveis por esta mortandade
de peixes e pela destruição da fauna e flora do rio Tejo.
De acordo com um testemunho que nos fizeram chegar "no dia 15 de
Setembro, foram efetuadas análises no rio Tejo junto à barragem do Fratel e à
barragem do Cabril no rio Zêzere constatando-se que os níveis de oxigénio na
água à superfície (oxigénio dissolvido) no rio Tejo na barragem do Fratel eram
100 vezes inferiores aos níveis medidos no rio Zêzere em Cabril. O oxigénio era
tão baixo no rio Tejo que os peixes ou aprendem a respirar fora de água ou
morrem. Esta é a realidade deste rio.”
É precisamente este prenúncio de morte que está a acontecer, neste
preciso momento os peixes morrem e começam a tentar respirar fora de água.
Triste destino!
E ainda consigo ser surpreendido pela fiscalização da Inspeção-Geral da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), a
fazer análises à água acompanhados da comunicação social, a dizer, também
surpreendida, que os níveis de oxigénio dissolvido nas águas eram
preocupantemente muito reduzidos.
É urgente que acordem e atuem visto que há muito tempo que se conhecem
as origens da poluição e quem são os poluidores!
Queremos medidas eficazes e definitivas que garantam que esta situação
não volta a acontecer.
O Tejo merece melhor!
Paulo Constantino
CAIXA
Os rios produzem e consomem oxigénio, sendo o seu equilíbrio essencial
a vida do rio. A concentração de oxigénio na água é designada por oxigénio
dissolvido (OD) e é medida em mg/L e % de saturação. Rios saudáveis devem ter
níveis com cerca de 8 mg/L e acima de 90% de saturação. Valores de OD abaixo de
5 mg/L criam situações de elevado stress aos seres vivos provocando aumento de
bactérias, decomposição dessa matéria e formação de gases como enxofre. Quando
os níveis de OD são inferiores a 2 mg/L leva à morte da maioria dos organismos.
Estes níveis são atingidos quando existe um grande nível de poluição e
aparecimento em grande escala de matéria orgânica em decomposição.
A eutrofização ou eutroficação é o crescimento excessivo de plantas
aquáticas, para níveis que afete a utilização normal e desejável da água, o
fator substancial para este aumento é a maior concentração de nutrientes,
essencialmente o nitrogênio e fósforo. Este problema é resultado das constantes
descargas municipais, industriais e, principalmente, pela utilização excessiva
de adubos e pesticidas, afeta sobretudo corpos de água parados (lagos,
represas, açudes),mas pode ocorrer também em rios assim como em ambientes
marinhos, porém, com uma menor frequência pois as condições ambientais são
menos favoráveis.
Consequências da Eutrofização
Condições anaeróbicas das águas: O excesso de matéria orgânica e demais
nutrientes (N e P) aumenta a concentração de bactérias aeróbicas, estas,
consumirão o oxigênio dissolvido (OD) das águas, esse consumo poderá levar à
morte da biota aquática, além de gerar também odores desagradáveis devido à
formação do gás sulfídrico (H2S)
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