Somos um movimento de cidadania em defesa do Tejo denominado "Movimento Pelo Tejo" (abreviadamente proTEJO) que congrega todos os cidadãos e organizações da bacia do TEJO em Portugal, trocando experiências e informação, para que se consolidem e amplifiquem as distintas actuações de organização e mobilização social.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

“Sempre, uma e outra vez, em defesa do Tejo!!” - Crónica “Cá por Causas” – Paulo Constantino – 10 de fevereiro de 2025

“Sempre, uma e outra vez, em defesa do Tejo!!”
Crónica “Cá por Causas” – Paulo Constantino
10 de fevereiro de 2025

Voltam, uma e outra vez!

Em 1951 foi a primeira vez que alvitraram o alagamento de Constância e do Castelo de Almourol, para voltarem em 2007 com a barragem de Almourol e, finalmente, em 2018, lançarem o projeto Tejo que propõe seis novas barragens e açudes de Abrantes até Lisboa, o qual, agora aqui, eclodiu com a ideia peregrina de incrustar um açude no rio Tejo a jusante da foz do Zêzere em Constância.


Rio Tejo em Vila Nova da Barquinha, junto ao Castelo de Almourol. Foto de arquivo: DR

E as populações ribeirinhas dos nossos rios Zêzere e Tejo aqui se apresentam outra vez para lhes tirarem daí a ideia.

Sempre, uma e outra vez, na defesa dos nossos rios.

Somos a mão que protege a biodiversidade e todas as Vidas que dependem do rio e dos afluentes da mais explorada bacia de Portugal, a bacia do Tejo!

Uma bacia explorada por três transvases em Espanha, pela poluição, pelas barragens que aprisionam 880 km de rio e, agora aqui, por uma nova barreira à dinâmica fluvial natural dos nossos rios que vai afetar negativamente as nossas Vidas ao contribuir para a destruição dos ecossistemas que nos sustentam.

E é por isso que estamos aqui, que estivemos no passado e que estaremos no futuro.

Não somos contra as barragens necessárias, que já existem e são suficientes, mas sim pela busca de alternativas a novas barreiras de modo mitigar a crise ecológica que já afeta todos os seres vivos.

E existem alternativas, quer às seis novas barragens e açudes de Abrantes a Lisboa, propostas pelo projeto Tejo, quer ao açude que nos trás hoje aqui.

Essas alternativas são principalmente a redução das perdas de água na distribuição e a eficiência no uso da água que permitirão fazer o que fazemos hoje com metade da água ou, dito de outro modo, produzir o dobro dos alimentos com a mesma água que usamos hoje.

Além destas alternativas, podemos ainda captar água diretamente dos rios para produzirmos mais com os custos energéticos mínimos da sua bombagem com recurso à energia solar.

Mas não podemos retirar toda a água aos rios para satisfazer uma agricultura intensiva desenfreada.

A captação de água diretamente do rio é realizada atualmente e será garantida com caudais ecológicos instantâneos, regulares e contínuos, apenas necessários porque as barragens deixam a seco o leito dos rios a jusante, enquanto inundam bons solos e património cultural a montante, como poderá acontecer em Constância se deixarmos que concretizem esta malfadada e abominável ideia de ali construírem um novo açude.

Está estimado que este açude e canais de distribuição de água custem 1,3 mil milhões de euros, investimento que poderia ser melhor direcionado para concretizar estas alternativas e apoiar a pequena e média exploração agrícola a colocar alimentos na nossa mesa com menos água.

São esses agricultores, com pequenas e médias explorações agrícolas, que asseguram a soberania alimentar nacional e não a agricultura intensiva que aposta na exportação.

Esta agricultura intensiva que, recorrendo ao Alqueva, alterou a paisagem cultural do Alentejo, continua a deteriorar a qualidade do seu solo, e sem solo não se produz, e que exige cada vez mais água para abastecer culturas que não são adequadas a regiões onde a escassez de água se vai instalando ao ritmo do agravamento das alterações climáticas.

Uma agricultura intensiva que destrói os ecossistemas que prestam serviços necessários à sustentabilidade e ao bem-estar das nossas Vidas.

A nossa região escolheu um modelo de desenvolvimento que salvaguarde a biodiversidade, a paisagem cultural e o bem-estar das nossas Vidas, impulsionando o turismo de natureza, náutico e cultural, a hotelaria e restauração, a gastronomia e a pesca tradicional e todas as atividades económicas, industriais, comerciais e agrícolas que protejam estes valores ecológicos e culturais.

E com este modelo faremos o que fazemos hoje, e ainda mais, com alternativas tecnológicas mais ecológicas, mais eficientes e mais económicas.

Para isso precisamos do rio Tejo e dos seus afluentes em bom estado ecológico.

E é por isso mesmo que estamos aqui hoje, uma e outra vez, e todas aquelas que forem necessárias.

Convosco, uma e outra vez!

Juntos podemos rejeitar, aqui e agora, esta proposta de um novo açude no rio Tejo em Constância / Praia do Ribatejo (VN Barquinha).

O Tejo e as populações ribeirinhas merecem!


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