Somos um movimento de cidadania em defesa do Tejo denominado "Movimento Pelo Tejo" (abreviadamente proTEJO) que congrega todos os cidadãos e organizações da bacia do TEJO em Portugal, trocando experiências e informação, para que se consolidem e amplifiquem as distintas actuações de organização e mobilização social.

sexta-feira, 14 de março de 2025

“proTEJO considera um desastre ecológico e social a estratégia “Agua que une” no “Dia Internacional de Ação Contra as Barragens pelos Rios, pela Água e pela Vida”

Nota de Imprensa

14 de março de 2025

“proTEJO considera um desastre ecológico e social a estratégia “Agua que une” no “Dia Internacional de Ação Contra as Barragens pelos Rios, pela Água e pela Vida”

Hoje, 14 de março de 2025, “Dia Internacional de Ação Contra as Barragens, pelos Rios, pela Água e pela Vida”, celebrado pela primeira vez em 1997, em Curitiba – Brasil, durante o primeiro “Encontro Internacional de Pessoas Afetadas por Barragens”, solidarizamo-nos especialmente com a luta de milhares de pessoas e movimentos sociais que tiveram as suas vidas afetadas pela construção de barragens e que tentam impedir que novas barragens sejam construídas sobre as suas histórias.

O proTEJO - Movimento pelo Tejo considera um desastre ecológico e social a estratégia “Água que une” que apresenta uma visão de curto prazo que continua a favorecer o crescimento dos setores do agro-negócio, da banca, da construção civil e do imobiliário à custa da degradação de uma ecologia do planeta favorável à sustentabilidade da Vida.

Esta estratégia é essencialmente apressada, eleitoralista, economicista e megalómana face à circunstância de um Governo demissionário cujas propostas estão objetivamente focadas, em termos de prazos de execução no curto prazo, na construção de inúmeras novas infraestruturas hidráulicas (barragens, transvases e açudes) que conduzem a um desastre ecológico e social, apresentam um risco elevado de ficarem rapidamente subutilizadas sem o retorno económico esperado, e que não foram consensualizadas com a sociedade portuguesa e com as pessoas que vão ser diretamente afetadas.

Mais concretamente, o proTEJO considera, quanto à estratégia “Água que une”, que:

1º Não concilia os valores económicos com os valores ecológicos e sociais, por não assegurar nem a sustentabilidade económica de médio-longo prazo, nem a sustentabilidade ambiental, só possível através de uma ação urgente sobre a conservação e o restauro da natureza.

Na realidade, conduz a um desastre ecológico e social pelos graves danos causados pelos seguintes projetos:

   os transvases de ligação de bacias hidrográficas distintas, nomeadamente, do Douro e do Mondego para o Tejo e do Tejo para o Guadiana com as denominadas “autoestradas da água” (ex: ligação Sabugal-Meimoa), vão afetar populações e degradar, destruir e fragmentar habitas, já globalmente debilitados; vão permitir a transferência de poluição e de espécies entre estas bacias provocando alterações nos seus ecossistemas;

      a construção de novas barreiras nos rios (barragens e açudes) alteram a dinâmica e limitam a conectividade fluvial dos rios, destruindo a biodiversidade pela afetação dos habitats e das condições de sobrevivência das diversas espécies, causando uma deterioração adicional da qualidade das massas de água, reduzindo a chegada de sedimentos às zonas costeiras e aumentando a emissão de gases com efeitos de estufa que agravam as alterações climáticas.

2º Nega-se a si própria ao inverter as prioridades que foram estabelecidas na sua criação visto que os contribuintes serão obrigados a pagar mais de 3 biliões de euros (3.174 M€) para novas infraestruturas hidráulicas (barragens, transvases e açudes) e manutenção das existentes, mais de metade do investimento total previsto (+ de 55% de 5 biliões de euros) quando tinha sido definido, nas prioridades da estratégia, que estas infraestruturas seriam um último recurso.

Este valor será pago por todos os contribuintes a partir do Orçamento de Estado português, tendo o caso da barragem do Pisão demonstrado que a União Europeia não irá financiar novas grandes barragens por ser uma política que está em contraciclo com Lei do restauro da natureza e com a estratégia da UE para a biodiversidade 2030, que visa libertar de barreiras 25.000 km do curso natural dos rios até 2030 para assegurar a sua conectividade, uma vez que provocam disfuncionalidades ecológicas que põem em causa a sobrevivência das espécies, incluindo a humana.

Na verdade, as principais prioridades inicialmente estabelecidas foram relegadas para último lugar, ao afetar-se à redução das perdas de água, à eficiência do uso e à reutilização das águas residuais, mais simples, mais económicas e mais ecológicas, apenas 1.989 M€, ou seja, cerca de um terço (35%) do investimento total.

As medidas para a biodiversidade, a restauração e a conectividade fluvial, são contempladas com uma insignificância de apenas 50 M€, menos de 1% do investimento total.

3º Encontra-se orientada para o aumento do regadio (30%) com maior consumo de água e não para satisfazer as atuais e futuras necessidades de água das populações com as disponibilidades de água que ali existem.

É evidente a existência de um aproveitamento de uma incorreta percepção de escassez de água que resulta, em grande medida, da redução artificial de caudais dos rios pelas barragens, bem como de uma ocupação e uso do solo que não favorece uma biodiversidade capaz de reinstalar condições de fertilidade, de evapotranspiração, de purificação e de infiltração de água nos solos.

Adicionalmente, não responde a importantes questões: Qual o objetivo deste aumento do regadio? Para quem plantar o quê? Para produzir como e consumir onde?

E ainda ficaram esquecidas medidas estratégicas cujo impacto se prolonga em prazos mais ou menos longos, nomeadamente, as soluções de engenharia natural e as que promovem o restabelecimento de zonas húmidas e a infiltração da água nos solos, como sejam, uma floresta com maior biodiversidade, a adaptação das culturas agrícolas às alterações climáticas e o incentivo para uma agricultura regenerativa.

Quanto ao Médio Tejo esta estratégia propõe a concretização de 3 projetos: o novo açude no rio Tejo em Constância / Praia do Ribatejo (VN Barquinha), o estudo da ligação da bacia do Tejo à bacia do Guadiana, e a construção de uma nova grande barragem no rio Ocreza.

Estes projetos são danosos para o funcionamento dos ecossistemas, a paisagem natural e cultural, a economia local, os espaços de vivência social e, portanto, para a Vida das pessoas, de gerações atuais e vindouras, pelo que, nos comprometemos hoje, no “Dia Internacional de Ação Contra as Barragens pelos Rios, pela Água e pela Vida”, a lutar ao lado das pessoas que venham a ser afetadas pela construção destas novas infraestruturas hidráulicas, sejam barragens, transvases ou açudes.

Bacia do Tejo, 14 de março de 2025

Ana Silva e Paulo Constantino

Os porta vozes do proTEJO

+ Informações: Paulo Constantino 919 061 330

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