O filósofo Ludwig Fewrback afirmou que “a água é o primeiro espelho do homem” no sentido de que reflecte a identidade e a verdade da acção do homem sobre a natureza.
Alguns defensores da água vão mais longe questionando a sustentabilidade do nosso modo de vida e do tratamento das águas do planeta ao afirmarem “se um rio é como um espelho que reflecte os valores e comportamentos da nossa sociedade, a nossa não vale o que bebe nem o que come, valendo talvez o que produz de sujidade, lixo e poluição...” (Dom Luiz Flávio Cappio - Bispo da Diocese de Barra, Bahia).
À semelhança de Narciso, o Homem rejeitou a paixão da ninfa Eco e foi amaldiçoado a apaixonar-se incontrolavelmente pelo consumo exagerado e desregrado que não sendo capaz de satisfazer em harmonia com a natureza por certo o conduzirá ao suicídio por exaustão dos solos, da floresta e da água, pela desertificação do planeta. O próprio slogan “salvar o planeta” denota uma cegueira de quem não assume que tem de agir para salvar a própria vida e a biodiversidade que nele habita.
Na verdade, a degradação do ar, floresta, solo e água irá prejudicar a qualidade destes recursos no futuro e conduzir a uma menor produtividade das diversas actividades económicas que destes dependem, que actualmente mantém práticas e níveis de produção insustentáveis face aos recursos disponíveis.
Quanto aos recursos hídricos, aos rios, ribeiras e aquíferos, o seu estado ecológico tem vindo a ser prejudicado por factores de diversa ordem, como sejam:
a) a menor capacidade de retenção da água nos solos devido à plantação de vegetação que facilita a evaporação (ex: eucalipto) em substituição de vegetação autóctone (ex: carvalho) que a dificultava;
b) a degradação da qualidade da água decorrente do insuficiente tratamento das águas residuais do consumo humano, da poluição produzida pelo excesso de fertilizantes químicos utilizados na agricultura intensiva, pelas descargas ilegais da indústria agro-alimentar e da pecuária, com especial responsabilidade das suiniculturas, e pelo aumento do número de barragens;
c) o esgotamento de aquíferos e a escassez de águas subterrâneas decorrente da sobre - exploração dos recursos hídricos pelo agricultura de regadio;
d) a redução dos caudais dos rios que são alimentados pelos aquíferos, desviados através de transvases para a irrigação de outras bacias e retidos por barragens que alteram o ciclo hidrológico e favorecem a evaporação;
e) a diminuição dos caudais que permite a subida da água do mar face ao recuo da água doce e a progressão da salinização dos solos com a consequente redução da superfície de terras disponíveis para a agricultura.
Os maltratos a que o rio Tejo está actualmente sujeito é um bom exemplo da cegueira e do desequilíbrio na exploração dos recursos hídricos, sendo também um espelho que reflecte a degradação dos seus afluentes.
O rio Tejo tem visto os seus caudais diminuídos até à secura devido à retenção de água nas barragens e ao seu desvio por transvases, enquanto os seus afluentes lhe têm vindo a transmitir uma acentuada carga de poluição gerada pelas descargas de efluentes das suiniculturas e da indústria agro-alimentar no rio Maior, de químicos da indústria dos curtumes no rio Alviela, de fertilizantes químicos excessivamente usados na agricultura intensiva, da indústria de óleos e de álcool no rio Almonda e das águas residuais de consumo humano (esgotos domésticos) sem adequado tratamento na ribeira de Santa Catarina, como em tantos outros dos afluentes da sua bacia.
E vocês? Já olharam bem para os rios, ribeiras e riachos da vossa terra?
Acham que o Tejo os merece?
Paulo Constantino
Paulo Constantino
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