A actividade "Vogar Contra a Indiferença - Pelos nossos rios, pelo nosso futuro" congregou cerca de 80 canoístas e 40 embarcações que desceram este domingo, dia 9 de Maio de 2010, o rio Tejo desde a barragem de Cedilho ao cais fluvial de Vila Velha de Ródão, numa ação que juntou portugueses e espanhóis em defesa de uma gestão sustentável do rio.
Em Vila Velha de Ródão, algumas centenas de pessoas aguardavam a chegada das canoas para ouvir a leitura de uma Carta Contra a Indiferença, documento no qual o proTEJO e as restantes organizadoras do evento, apelam às autoridades competentes, a nível internacional, nacional, regional e local, que defendam o rio Tejo e os seus alfuentes.
Exige ainda “o cumprimento da Directiva Quadro da Água, ou seja, a garantia de um bom estado das águas do Tejo", a monitorização do cumprimento permanente do regime de caudais ambientais, a recusa dos transvases do Tejo e o apoio à investigação de alternativas sustentáveis, baseadas no uso eficiente da água.
A concepção de um projecto de desassoreamento do rio, que permita a sua navegabilidade, a garantia da qualidade e quantidade de água do rio Tejo e dos seus afluentes, a restauração do sistema fluvial natural e o seu ambiente e a valorização e promoção da identidade cultural e social das populações ribeirinhas do Tejo são outras reivindicações.
A actividade "Vogar Contra a Indiferença" foi organizada pelo movimento proTEJO e pelas associações, a Adenex (defesa da natureza e recursos da Extremadura), a AZU (ambiente em zonas uraníferas), a ASA (Salavessa viva), o MUNN (movimento urânio em Nisa não), a Quercus e a CerciZimbra.A iniciativa contou ainda com o apoio da Associação de Estudos do Alto Tejo, do Geopark Naturtejo, da Rede de Cidadania por uma Nova Cultura da Água do Tejo/Tajo, da United Photo Press/2010 - Ano Internacional da Biodiversidade, e dos municípios de Nisa e de Vila Velha de Ródão.
“As populações do Alto Tejo conseguiram sobreviver e prosperar em harmonia com o rio que lhes foi generoso no passado e que será essencial no futuro”, sublinha.
Para este movimento, “a preservação do rio Tejo é um tributo que os cidadãos devem oferecer a este património, sendo urgente assegurar que o caudal do Tejo seja o que era antigamente, acabar com a poluição que mata os peixes e envenena o ambiente e as pessoas, criar canais de passagem para os peixes nas barragens e nos açudes e acabar definitivamente com a pesca ilegal”.
Acrescentam ainda que “neste futuro não têm lugar nem o Urânio nem o Nuclear, enquanto recursos energéticos insustentáveis do ponto de vista do desenvolvimento ambiental, social e económico, que colocam em risco a segurança dos cidadãos”.
Público
TVI24
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CARTA CONTRA A INDIFERENÇA
PORTAS DE RÓDÃO – 9 DE MAIO DE 2010
O rio Tejo não é apenas água, é cultura viva, a espinha dorsal e o eixo, das terras e das aldeias por onde passa.
É com grande felicidade que vemos juntarem-se em defesa do Tejo todos os cidadãos e organizações aqui presentes, representativos de toda a bacia ibérica do Tejo e de todos os sectores da sociedade e áreas de acção, constituindo-se como um exemplo independente de participação e cidadania.
Nas nossas diferenças, o elo que nos une é o Tejo!
O mesmo Tejo que une toda esta bacia de Espanha a Portugal, que une todas as populações ribeirinhas e as suas culturas, que o conhecemos e o vivemos da nascente até à foz, de Albarracín ao Grande Estuário.
É também significativo que nos encontremos nas Portas de Rodão, Monumento e Maravilha Natural que simboliza a comunhão entre o património natural e cultural associado ao rio Tejo, com relevância para a geologia e biodiversidade.
As populações do Alto Tejo conseguiram sobreviver e prosperar em harmonia com o rio que lhes foi generoso no passado e que será essencial no futuro.
Um futuro onde este laço de natureza e cultura perdure e se reforce com o regresso de modos de vida ligados à água e ao rio que as actividades de educação e turismo de natureza, cultural e ambiental permitirão sustentar.
A preservação do rio Tejo é um tributo que os cidadãos devem oferecer a este património, sendo urgente assegurar que o caudal do Tejo seja o que era antigamente, acabar com a poluição que mata os peixes e envenena o ambiente e as pessoas, criar canais de passagem para os peixes nas barragens e nos açudes e acabar definitivamente com a pesca ilegal.
Neste futuro não têm lugar nem o Urânio nem o Nuclear, enquanto recursos energéticos insustentáveis do ponto de vista do desenvolvimento ambiental, social e económico, que colocam em risco a segurança dos cidadãos.
A extracção de urânio tem no consumo e na poluição da água os principais impactos ambientais, conjuntamente com a alteração do território, a afectação da paisagem e a difusão de poeira que pode afectar as povoações mais próximas e a saúde dos seus habitantes.
A contaminação das águas do Tejo por substâncias radioactivas relacionadas com a Central Nuclear de Almaraz é uma realidade, onde as fugas ocorrem e se misturam com a água tardando a serem divulgadas às populações afectadas.
Conhecemos os males de que o Tejo padece com os transvases, com o assoreamento, com a poluição, ou seja, o maltrato que a mão do homem tem vindo a infligir à sua água e aos seus ecossistemas.
Para conter essa mão que o maltrata temos que abrir a outra mão para que o proteja, e essa mão somos nós!
Por isso temos o dever de estender essa mão aberta para criar uma corrente de vontade e de intencionalidade, que seja capaz de esclarecer quem decide e que exija um tratamento ecologicamente sustentável para o rio Tejo.
Devemo-lo a nós próprios, que com o Tejo partilhámos a nossa vida e aceitámos a generosidade das suas águas.
Devemo-lo às gerações futuras para que conheçam um Tejo vivo, como nós o conhecemos, e não um escravo e prisioneiro do egoísmo e da especulação dos humanos.
Se continuarmos neste rumo, as próximas gerações já não conhecerão rios vivos, mas apenas imagens na internet... que serão sombras do que um dia nos foi oferecido com generosidade.
Por tudo isto, devemos unir-nos e reclamar a unidade e integridade do Tejo e da sua bacia, já que o amor e o respeito que por ele sentimos não se esgotam em nenhuma das fronteiras administrativas e artificiais que os homens impõem à natureza.
Para que as nossas mãos o protejam temos que as unir e coordenar, mostrando a união dos cidadãos portugueses e espanhóis na defesa do Tejo, enquanto bacia ibérica e internacional, e afirmar a nossa determinação para combater a indiferença ao maltrato que tem vindo a sofrer.
Assim, com vista a defender o Tejo e seus afluentes, e como cidadãos do rio Tejo, em Portugal e em Espanha, unimo-nos para reivindicar a todas as autoridades competentes, internacionais, nacionais, regionais e locais:
1º. A necessidade de uma gestão sustentável da bacia hidrográfica do Tejo;
2º. O cumprimento da Directiva Quadro da Água, ou seja, a garantia de um bom estado das águas do Tejo;
3º. O estabelecimento e quantificação de um regime de caudais ambientais, diários, semanais e mensais, reflectidos nos Planos da Bacia Hidrológica do Tejo, em Espanha e em Portugal, que permitam o bom funcionamento dos ecossistemas ligados ao rio;
4º. A monitorização do cumprimento permanente do regime de caudais ambientais;
5º. A recusa dos transvases do Tejo e o apoio à investigação de alternativas sustentáveis, baseadas no uso eficiente da água;
6º. A concepção de um projecto com vista ao desassoreamento do rio Tejo e à sua navegabilidade;
7º. A qualidade e quantidade de água do rio Tejo e dos seus afluentes, no sentido de garantir os diversos usos;
8º. A realização de acções para ajudar a restaurar o sistema fluvial natural e o seu ambiente;
9º. A valorização e promoção da identidade cultural e social das populações ribeirinhas do Tejo.
É isto que defendemos,
Que as nossas mãos unidas protejam o TEJO.
E digamos com Miguel Torga, porque os poetas sabem ver o futuro
Recomeça
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
O Tejo merece!
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