sábado, 27 de abril de 2024

“Como um Rio de Água que não vai parar! Por caudais ecológicos, já, e para sempre!”, Crónica “Cá por Causas” – Paulo Constantino – 27 de abril de 2024


“Como um Rio de Água que não vai parar!  
Por caudais ecológicos, já, e para sempre!”

Esta caminhada começou há cerca de 14 anos quando um homem bom e amigo, o senhor Manuel Barreto, chamou a atenção de que o rio Tejo quase não levava caudal e que estavam a colocar mais fundo no leito do rio a bomba que alimenta o canal do parque ribeirinho da Barquinha.

Desde aí foi um desbravar no desconhecido para saber mais, conhecer mais sobre o que se passava com o nosso rio, percebendo que aquele acentuado subir e descer do caudal do rio, com variações superiores a 2 metros de nível na margem, não era normal e causava danos quer ao disfrute do rio pelas pessoas, quer aos ecossistemas que integramos e dos quais dependem as nossas Vidas.

Por mero ocaso, teve lugar em Vila Nova da Barquinha um evento, “Salvar a Terra e a Água”, promovido pelo Instituto para a Democracia Portuguesa, cujo presidente era Mendo Castro Henriques, e com a presença do arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles e de Duarte Pio de Bragança, atual Duque de Bragança.



Neste evento participou a Plataforma em defesa dos rios Tejo e Alberche de Talavera de la Reina que já lutava contra um transvase do rio Tejo, desde a cabeceira do rio até ao levante, no sul de Espanha, que os impedia de terem caudais ecológicos no nosso rio à passagem pela sua cidade e pelos seus campos.

Os laços estavam dados, os dados estavam lançados, o caminho estava traçado e a decisão estava tomada: era preciso agir e fazer alguma coisa, era preciso ir para a rua defender os caudais ecológicos no rio Tejo.

Dito e feito, no dia 20 de junho de 2009, a Barquinha fez-se representar com 40 cidadãos numa manifestação de mais de 40 mil pessoas que desfilaram nas ruas de Talavera de la Reina contra o transvase Tejo-Segura, que desvia a água do Tejo e não permite que a água corra no médio Tejo em Espanha.

A força do povo nas ruas, a defender o seu presente e futuro foi a inspiração para o que estava para vir.

E o que estava para vir foi a união, a partilha, o trabalho, a aprendizagem, a luta e o companheirismo que manteve juntos, ao longo dos últimos 14 anos, os cidadãos e as organizações reunidas num movimento cívico informal, o proTEJO – Movimento pelo Tejo.

Cidadãos que neste movimento continuam a defender um bom estado ecológico das águas do rio Tejo e seus afluentes, lutando contra a poluição do rio Tejo e seus afluentes, propondo alternativas aos novos açudes e barragens que querem construir nos últimos 120 km de rio Tejo livre e fundamentando a defesa de um regime de caudais ecológicos na fronteira de Portugal e Espanha, na barragem de Cedillo.

Tivemos desilusões, mas já tivemos sucessos, como na contenção da grande poluição que acontecia no rio Tejo, e por isso mesmo esperamos conseguir que se implante um regime de caudais ecológicos na fronteira com Espanha em resultado da denúncia[1] que fizemos á Comissão Europeia pela sua ausência se constituir num incumprimento das normas comunitárias, da Diretiva Quadro da Água, bem como da legislação espanhola e portuguesa, além da própria Convenção de Albufeira, acordada entre Portugal e Espanha.

E no dia 25 de Abril, em que festejámos os 50 anos de liberdade, festejámos também o dia em que a implementação de um regime de caudais ecológicos no rio Tejo por negociação com Espanha foi defendida pelo professor Rodrigo Proença de Oliveira[2], professor do Instituto Superior Técnico (IST), responsável pelo estudo das disponibilidades hídricas de Portugal, em que se basearam os planos de bacia hidrográfica de 2022-2027.

Pela especialidade nestas matérias, tinha já participado como orador convidado pelo proTEJO no “Seminário - Tejo Vivo e Vivido – Para a recuperação do rio Tejo e seus afluentes”, realizado em Abrantes no ano de 2018, com os temas “O regime de caudais e o estado ecológico na Convenção de Albufeira” e “A escassez de água na bacia do Tejo em situação de seca periódica e alterações climáticas”.

Durante este caminho recebemos algumas sementes, plantámos outras e outras têm sido amavelmente colocadas no caminho, no exato e único momento em que devem ser plantadas para darem a melhor cepa, agregando-se tal bola de neve que tudo une e agrega em cada metro percorrido, avolumando-se e engrossando os cidadãos que se unem e o seu conhecimento sobre os mais belos rios que são de todos nós e das nossas aldeias.

E um exemplo deste culminar, em que tudo recomeça, é a realização do “Encontro Nacional de Cidadania pela Defesa dos Rios e da Água”, no próximo dia 18 de maio, na Casa da Cultura de Coimbra[3], promovido por 70 organizações de seis movimentos cívicos, de norte a sul do país, para definir medidas e formas de mobilização da cidadania para combater a seca, assegurar a proteção de rios e das águas subterrâneas e encontrar alternativas aos transvases e construção de novas barragens, açudes e dessalinizadoras.

São sementes, senhor, são sementes!

Temos carregado esta quimera, esta responsabilidade, este fardo, com a paixão, o gosto e a leveza de quem não quer deixar que as palavras desse amigo tenham sido proferidas em vão, honrando todos os que vivem e amam o rio.

E fazemo-lo inspirados por muitos de nós!

Que colocam a ecologia ao peito e querem que a conheçamos.

Que fizeram um longo percurso de vida a defender as nossas vidas com base na ecologia.

Que simplesmente, com o seu esforço e empenho, se dispuseram a ajudar as nossas ações.

Que tiveram a coragem de defenderem a nossa comunidade contra os poderosos poluidores.

Que estudam a natureza e a protegem como um bem para a nossa vida.

Mantendo sempre a coragem de defender as vossas convicções.

A todos vós a nossa gratidão, hoje e aqui, por termos a honra de juntos percorrermos este caminho.

E por tudo isso queremos caudais ecológicos já e para sempre!

Por todos nós, não vamos parar!

Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar!

Enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar!

O Tejo e a Vida merecem!

Paulo Constantino


E continuamos 

“Como um Rio d'agua” cantado por Syro e Gisela João

“Já não volto a quem fui

Eu aceito em paz

Mas carrego em mim

O que me desfaz

 

E as flores que um dia reguei

Vi-as a crescer e deixei

O tempo merecer

E sem dizer as levou de mim

 

Como um rio de água

A vida não para de correr

E lavo a alma (alma)

Afogo a mágoa que tiver

 

Como um rio de água

Tu estendes a mão para eu beber

Um rio de água (água)

Um rio de água"

 

Compositores: Ariel / Filipe Survival / Riic Wolf / Syro / Gisela João



[1] Denúncia à Comissão Europeia “Incumprimento da Diretiva Quadro da Água pela não implementação de caudais ecológicos no rio Tejo por Espanha e Portugal” – Consultar em: https://bit.ly/3veR6Hx.

[2]“Portugal tem de negociar com Espanha caudais ecológicos para o Tejo” – Água & Ambiente – 24/4/2024 - https://www.ambienteonline.pt/noticias/portugal-tem-de-negociar-com-espanha-caudais-ecologicos-para-o-tejo.

[3] “Encontro Nacional de Cidadania pela Defesa dos Rios e da Água” - Programa e + informação: https://linktr.ee/encontronacionaldefesariosagua ; Formulário de inscrição: https://forms.gle/PVoKhSR69RgqAMYYA.

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