CARTA CONTRA A INDIFERENÇA
ORTIGA/MAÇÃO – 7 DE SETEMBRO DE 2019
O rio Tejo não é apenas água, é cultura viva, a espinha dorsal e o eixo, das terras e das aldeias por onde passa.
É com grande felicidade que vemos juntarem-se em defesa do Tejo todos os cidadãos e organizações aqui presentes, representativos de toda a bacia ibérica do Tejo e de todos os sectores da sociedade e áreas de ação, constituindo-se como um exemplo independente de participação e cidadania.
O mesmo Tejo que une toda esta bacia de Espanha a Portugal, que une todas as populações ribeirinhas e as suas culturas, que o conhecemos e o vivemos da nascente até à foz, de Albarracín ao Grande Estuário.
É também significativo que nos encontremos na freguesia de Ortiga no município de Mação onde se pretende realçar a beleza do património natural de um rio Tejo livre com dinâmica fluvial e do património cultural do rio Tejo associado à pesca tradicional no Município de Mação, em especial, as preciosas pesqueiras do rio Tejo, autênticas obras de arte, cuja construção assenta na técnica de execução designada na região por de “pedra ao alto” e de tal eficácia na resistência à natural força das correntes de água que viria a ser utilizada por Juan Bautista Antonelli, em 1583, na construção dos caminhos de sirga e no então criado e ainda hoje existente Canal de Alfanzira, em Mouriscas, no âmbito do projeto de navegabilidade do rio Tejo, no início do reinado de Filipe I.
Às pesqueiras, para serem utilizadas como suporte da pesca à Varela, ao criarem as correntes de água adequadas ao exercício, com sucesso, daquela técnica, junta-se outro equipamento, o barco picareto, construído pelos calafates locais, imprescindível para a pesca com recurso ao tresmalho ou à tarrafa.
O rio Tejo que ao longo do seu curso sustentou as atividades agrícolas e comerciais das suas gentes constituiu-se como o principal eixo de desenvolvimento da comunidade da Ortiga: agricultores, moleiros, construtores de barcos, artes de pesca, barqueiros, pescadores. Destes teimam uns poucos em tirar do rio o sustento, cada dia mais magro em resultado das alterações na biodiversidade, causada pelos desmandos do ser humano.
As populações do Alto Tejo sempre conseguiram sobreviver e prosperar em harmonia com o rio, que lhes foi generoso no passado e que será essencial no futuro.
Um futuro onde este laço de natureza e cultura perdure e se reforce com o regresso de modos de vida ligados à água e ao rio, que as atividades de educação e turismo de natureza, cultural e ambiental permitirão sustentar.
A preservação do rio Tejo é um tributo que os cidadãos devem oferecer a este património, sendo hoje urgente defender um rio Tejo livre com dinâmica fluvial pela rejeição dos projetos de construção de novos açudes e barragens - Projeto Tejo e a Barragem do Alvito - e pela exigência de uma regulamentação daqueles que já existem de modo a garantir: o estabelecimento de verdadeiros caudais ecológicos; um regime fluvial adequado à prática de atividades náuticas e à migração e reprodução das espécies piscícolas; e uma conectividade fluvial proporcionada por eficazes passagens para peixes e pequenas embarcações.
Continuaremos a combater a sobre exploração da água do Tejo que já existe face à gestão economicista das barragens hidroelétricas da estremadura espanhola, aos transvases da água do Tejo para a agricultura intensiva no sul de Espanha e à agressão da poluição agrícola, industrial e nuclear.
Conhecemos os males de que o Tejo padece e o maltrato que a mão dos humanos tem vindo a infligir à sua água e aos seus ecossistemas.
Para conter essa mão que o maltrata temos que abrir a outra mão para que o proteja, e essa mão somos nós!
Por isso temos o dever de estender essa mão aberta para criar uma corrente de vontade e de intencionalidade, que seja capaz de esclarecer quem decide e que exija um tratamento ecologicamente sustentável para o rio Tejo.
Devemo-lo a nós próprios, que com o Tejo partilhámos a nossa vida e aceitámos a generosidade das suas águas.
Devemo-lo às gerações futuras para que conheçam um Tejo vivo, como nós o conhecemos, e não um escravo e prisioneiro do egoísmo e da especulação dos humanos.
Se continuarmos neste rumo, as próximas gerações já não conhecerão rios vivos, mas apenas imagens na internet... que serão sombras do que um dia nos foi oferecido com generosidade, e não terão incentivo a reconhecer o valor destes rios de que nunca tiveram a possibilidade de desfrutar.
Por tudo isto, devemos unir-nos e reclamar a unidade e integridade do Tejo e da sua bacia, já que o amor e o respeito que por ele sentimos não se esgotam em nenhuma das fronteiras administrativas e artificiais que os homens impõem à natureza.
Para que as nossas mãos o protejam temos que as unir e coordenar, mostrando a união dos cidadãos e cidadãs portugueses e espanhóis na defesa do Tejo, enquanto bacia ibérica internacional, e afirmar a nossa determinação para combater a indiferença ao maltrato que tem vindo a sofrer.
Assim, com vista a defender o Tejo e seus afluentes, e como cidadãos do rio Tejo, em Portugal e em Espanha, unimo-nos para reivindicar a todas as autoridades competentes, internacionais, nacionais, regionais e locais:
1º. A necessidade de uma gestão sustentável da bacia hidrográfica do Tejo com base no princípio da unidade da sua gestão;
2º. O cumprimento da Diretiva Quadro da Água, nomeadamente a garantia de um bom estado das águas do Tejo;
3º. O estabelecimento e quantificação de um regime de caudais ecológicos, diários, semanais e mensais, refletidos nos Planos de Gestão da Região Hidrográfica do Tejo, em Espanha e em Portugal, e na atualização da Convenção de Albufeira, que permitam o bom funcionamento dos ecossistemas ligados ao rio e, consequentemente, dos serviços que prestam à comunidade;
4º. A monitorização do cumprimento permanente do regime de caudais ecológicos aí definidos;
5º. A informação pública do cumprimento do convénio luso-espanhol relativamente aos rios ibéricos;
6º. A recusa dos transvases do Tejo e o apoio à investigação de alternativas sustentáveis, baseadas no uso eficiente da água;
7º. Garantir caudais no rio Tejo e seus afluentes em qualidade e quantidade suficientes para garantir o bom estado das massas de água e a viabilidade dos diversos usos lúdicos e recreativos;
8º. Acompanhar a monitorização e verificar o cumprimento das licenças de descargas de efluentes das indústrias, como as celuloses instaladas em Vila Velha de Ródão, exigindo a tomada de medidas de proteção ambiental com base no princípio da precaução;
9º. A realização de acções para ajudar a restaurar o sistema fluvial natural e o seu ambiente;
10º. A valorização e promoção da identidade cultural e social das populações ribeirinhas do Tejo.
É isto que defendemos,
Que as nossas mãos unidas protejam o TEJO.
E digamos com Miguel Torga, porque os poetas sabem ver o futuro
Recomeça
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
O Tejo merece!
CARTA CONTRA LA INDIFERENCIA
ORTIGA/MAÇÃO – 7 SEPTIEMBRE 2019
El río Tajo no es sólo agua, es cultura viva, la columna vertebral y el eje, y las tierras de los pueblos por los que pasa.
Es con gran alegría que vemos en la unión de la defensa del Tajo a todos los ciudadanos y las organizaciones aquí presentes representativos de toda la cuenca del Tajo Ibérica y todos los sectores de la sociedad y los ámbitos de acción, lo que constituye un ejemplo independiente de participación y ciudadanía.
En nuestras diferencias, ¡El lazo que nos une es el Tajo!
Es el mismo Tajo el que une a toda esta cuenca de España a Portugal, el que une a todas las poblaciones ribereñas y sus culturas, el que conocemos y vivimos desde su nacimiento en la sierra de Albarracín hasta la desembocadura del Gran Estuario del Mar de la Paja.
También es significativo que nos reunamos en el distrito de Ortiga, donde queremos resaltar la belleza del patrimonio natural de un río libre con dinámica de río y el patrimonio cultural del río Tajo asociado con la pesca tradicional en el ayuntamiento de Mação, en particular, Los preciosos barcos de pesca del río Tajo, auténticas obras de arte, cuya construcción se basa en la técnica de ejecución designada en la región como "piedra alta” y de tal efectividad para resistir la fuerza natural de las corrientes de agua que sería utilizado por Juan Bautista. Antonelli, en 1583, en la construcción de los caminos de sirga y el entonces creado Canal Alfanzira en Mouriscas, como parte del proyecto de navegabilidad del río Tajo, al comienzo del reinado de Felipe I.
A los botes de pesca, que se utilizarán como apoyo para la pesca de Varela, para crear las corrientes de agua apropiadas para ejercer con éxito esa técnica, se agrega otro equipo, el bote “picareto”, construido por los calafateadores locales, esencial para pescar con recurso al "trasmallo" o a la "red".
El río Tajo, que a lo largo de su curso da sustento en este tramo a las actividades agrícolas y comerciales de sus habitantes, se estableció como área de influencia y principal eje de desarrollo de la comunidad de Ortiga: agricultores, molineros, los astilleros, las artes de pesca, navegantes, pescadores. De estos algunos pocos insisten en sacar su sustento del río, más delgado éste cada día como resultado de los cambios en la biodiversidad causados por los excesos del ser humano.
Las poblaciones del Alto Tajo lograron sobrevivir y prosperar en armonía con el río que les fue generoso en el pasado y que será esencial en el futuro.
Un futuro en el que este lazo de la naturaleza y la cultura perdure y se fortalezca con el regreso a modos de vida vinculados al agua y a las actividades de educación y turismo de naturaleza, cultural y ambientalmente sostenibles.
La preservación del río Tajo es un homenaje que los ciudadanos deben ofrecer a este patrimonio, siendo hoy urgente defender un río Tajo libre con dinámica fluvial por el rechazo de los proyectos de construcción de nuevas presas y embalses - Proyecto Tajo y la Presa Alvito - y por la demanda de una regulación de las que ya existen para garantizar: el establecimiento de verdaderos caudales ecológicos ; un régimen fluvial adecuado para actividades náuticas y la migración y reproducción de especies de peces; y la conectividad del río proporcionada por efectivas pasajes para peces y pequeñas embarcaciones.
Continuaremos combatiendo la sobreexplotación del agua del Tajo que ya existe frente a la gestión economista de las represas hidroeléctricas de la Extremadura española, al trasvase del agua del Tajo a la agricultura intensiva en el sur de España y a la agresión de la contaminación agrícola, industrial y nuclear.
Sabemos de los males que el Tajo sufre y el maltrato que la mano del los humanos ha ido infligiendo a su agua y sus los ecosistemas.
¡Para contener esta mano que le maltrata tenemos que abrir la otra para protegerlo, y esta mano somos nosotros!
Así que tenemos el deber de extender la mano abierta para crear una corriente de voluntad e intencionalidad, que sea capaz de aclarar quién decide y qué tratamiento requieren las aguas del río Tajo para que éste sea ecológicamente sostenible.
Nos lo debemos a nosotros mismos, por el Tajo con el que compartimos vida y aceptamos la generosidad de sus aguas.
Se lo debemos a las generaciones futuras para que conozcan un Tajo vivo, y no un esclavo y prisionero del egoísmo y la especulación humana.
Si continuamos en esta dirección, las próximas generaciones no conocerán ríos vivos, sino sólo sus imágenes en Internet ... que aparecen como las sombras de lo que un día nos ofrecieron generosamente, y no tendrán ningún incentivo para reconocer el valor de estos ríos que nunca pudieron disfrutar.
Por todo esto, debemos unirnos y recuperar la unidad y la integridad del Tajo y su cuenca. El amor y el respeto que sentimos por él, no termina en ninguna de las fronteras administrativas artificiales y que los seres humanos imponen a la naturaleza.
Para que nuestras manos protejan tenemos que unir y coordinar, y mostrando la unión de los ciudadanos e ciudadanas españoles y portugueses en defensa del Tajo por cuanto de cuenca ibérica internacional tiene. Y afirmar nuestra determinación para combatir la indiferencia y el maltrato a que está sometido.
Por lo tanto, con el fin de defender el Tajo y sus afluentes, y como ciudadanos del río Tajo en Portugal y España, nos unimos para reclamar de todas las autoridades pertinentes, internacionales, nacionales, regionales y locales lo siguiente:
1. La necesidad de una gestión sostenible de la cuenca del Tajo basado en el principio de unidad de su gestión;
2. El cumplimiento de la Directiva Marco del Agua, a saber, garantizar un buen estado de las aguas del Tajo;
3. El establecimiento y la cuantificación de un régimen de caudales ecológicos, diarios, semanales y mensuales, reflejados en los Planes Hidrológicos de la Demarcación Hidrográfica del Tajo, en España y Portugal, para permitir el buen funcionamiento de los ecosistemas relacionados con el río y, en consecuencia, los servicios que prestan a la comunidad;
4. Verificación del cumplimiento continuo del régimen de caudales ecológicos allí definidos;
5. Información pública del cumplimiento de los convenios Luso-Españoles respecto de los ríos ibéricos;
6. Rechazo a los trasvases del Tajo y apoyo a la investigación de alternativas sostenibles, basadas en el uso eficiente del agua;
7. Garantizar caudales en el Tajo y sus afluentes en cantidad y calidad suficiente para garantizar el buen estado de las masas de agua y la viabilidad de los distintos usos lúdicos y recreativos.
8. Acompañar la monitorización y verificar el cumplimiento de las licencias de descargas de efluentes industriales, como las celulosas instaladas en Vila Velha de Ródão, exigiendo la toma de medidas de protección ambiental basado en el principio de la precaución;
9. La implementación de medidas para ayudar a restaurar el sistema natural del río y su entorno;
10. El desarrollo y la promoción de la identidad cultural y social de las orillas del río Tajo.
Esto es lo que defendemos,
Nuestras manos juntas protegen el Tajo.
Y digamos con Miguel Torga, porque los poetas saben ver el futuro...
Recomienza,
Si es posible,
Sin ansiedad y sin prisas.
Y los pasos que des
En este camino difícil
En el futuro
Dalos en libertad
Hasta no alcanzarlo
No descanses.
El Tajo merece!
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