A 31 de Março de 2015, a água armazenada nas
barragens da província de Cáceres era de 82,33%, estando então a barragem de
Cedilho no máximo da sua capacidade de armazenamento e a barragem de Alcântara,
aquela que tem maior capacidade de armazenamento, apresentava níveis de
armazenamento de água de cerca de 83,48% (fonte: Barragens de Cáceres
http://www.embalses.net/provincia-4-caceres.html).
Assim, a verdadeira razão para os baixos caudais registados
durante os meses de janeiro a março deste ano foi a retenção de água nas
barragens da província de Cáceres com vista a potenciar os lucros da exploração
hidroelétrica privilegiando os caudais “energéticos” em detrimento de caudais
ecológicos que garantam o bom estado ecológico das águas do rio Tejo.
Contudo, a 12 de Maio de 2015 os caudais que
afluíam pelo rio Tejo à barragem do Fratel, vindos de Espanha, aumentaram
significativamente, a níveis superiores aos meses de inverno de Novembro e
Dezembro, e a pedido da Agência Portuguesa do Ambiente, para diminuir o impacto
de descargas poluidoras que ocorreram nessa altura e que levaram à mortandade
de centenas de peixes no troço do rio Tejo junto à barragem de Ortiga-Belver.
Curiosamente, este afluxo de caudais anormalmente
mais elevados manteve-se de 12 de Maio a 11 de Agosto de 2015 pelo que nos
devemos questionar se a situação gravosa de poluição também se manteve durante
este período com o conhecimento das autoridades competentes e, sabendo nós que
a água representa valor económico para as centrais hidroelétricas, quais as
contrapartidas que as empresas poluidoras deram para que aquelas lhes cedessem a
água que tão egoisticamente e possessivamente retêm.
Mais curioso ainda foi o fato de, nos dias 24 a 25
de Setembro, os dias que antecederam à “Manifestação Contra a Poluição do rio
Tejo e seus afluentes”, os caudais terem aumentado fazendo subir a água do rio
Tejo em cerca de três metros acima do nível habitual, tendo chegado a afluir à
barragem do Fratel cerca de 800 metros cúbicos por segundo no dia 24 de
Setembro pelas 20 horas, fenómeno comentado pelos observadores mais atentos
como uma tentativa de “limpar” o rio Tejo da poluição antes da manifestação.
Infelizmente não o conseguiram porque a poluição
tem sido tanta que apenas foi “empurrada” para jusante e foi-se encostando mais
abaixo pelas margens do rio Tejo fora.
Hoje, a 28 de Setembro de 2015, a água armazenada
nas barragens da província de Cáceres é de 55,06%, estando a barragem de
Cedilho no máximo da sua capacidade de armazenamento, 96,92%, e a barragem de
Alcântara apresenta níveis de armazenamento de água de cerca de 64,78% (fonte:
Barragens de Cáceres http://www.embalses.net/provincia-4-caceres.html).
Com efeito, apesar dos níveis mais baixos de água
armazenada nas barragens da Estremadura, não se olhou à água, tendo esta sido
descarregada brutalmente pelas barragens espanholas apenas para fazer uma ação
de “limpeza” pontual no rio Tejo em vésperas de manifestação.
Não é esta a gestão da água que queremos, na qual a
água é usada e abusada para esconder a poluição, e, por isso, exigimos apenas
uma gestão racional da água que fiscalize e atue repressivamente sobre as
entidades poluidoras dos rios e que defina caudais suficientes para a preservação
do bom estado ecológico das águas e dos ecossistemas aquáticos.
Por uma nova cultura da água!
O Tejo merece!
Paulo Constantino
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