sexta-feira, 26 de outubro de 2012

RIO MAIOR ATINGIDO POR ESPÉCIES INFESTANTES

Rio Maior atingido por espécies infestantes
O mau estado ecológico do rio que dá nome ao concelho de Rio Maior foi um dos temas debatidos na Assembleia Geral do proTEJO – Movimento pelo Tejo, que se realizou em Vila Nova da Barquinha, no passado dia 13 de Outubro.
O riomaiorense António Costa, responsável do Movimento Ar Puro, foi um dos intervenientes. Luís da Cunha Romão, membro da Associação Tagus Universalis, lançou o alerta, mostrando aos participantes várias fotos recentes que tirou ao Rio Maior na zona de Santana, concelho de Cartaxo. “Como é possivel constatar, as águas contêm várias plantas infestantes, nomeadamente jacintos”.
Recorde-se que, para além do concelho homónimo, o Rio Maior percorre também os concelhos de Santarém, Cartaxo e Azambuja, onde desagua no Rio Tejo.
O Jacinto de Água
O Jacinto de Água (Eichornia crassipes) é reconhecido pela União Internacional para a Conservação da Natureza como uma das 100 piores espécies infestantes que existem no mundo. Em Portugal, é uma das 30 espécies de plantas classificadas em decreto lei como invasoras (D.-L. Nº 565/99).
Já em 1974 o governo de Marcelo Caetano criminalizou a sua “importação, cultura, multiplicação, venda, transporte ou posse, em todo o território do continente e ilhas adjacentes”.
Diz o decreto lei então aprovado (nº 165/74) que a espécie “conhecida vulgarmente por jacinto aquático, jacinto de água ou desmazelos, é uma planta aquática flutuante (…) originária da América tropical” que “nas suas regiões de origem encontra-se em equilíbrio com os factores do meio, não constituindo qualquer problema”.
No entanto “em virtude do seu efeito ornamental, foi introduzida noutras zonas do globo, e encontrando nalguns desses locais condições favoráveis ao seu desenvolvimento, chega, por vezes, a constituir praga causadora de grandes prejuízos ao provocar alterações substanciais no ambiente.”
Segundo o decreto lei assinado por Marcelo Caetano, “assim sucedeu em várias regiões, por exemplo, no rio Zaire, em Angola, facto que levou o respectivo Governo-Geral”, em 1956, a proibir “a posse, cultura, venda, transporte e importação desta planta, ficando os contraventores sujeitos a multas”.
“Graves prejuízos”
Em 1974 o governo português referia que “introduzido em data não determinada no território metropolitano, o jacinto aquático tem-se desenvolvido em certas zonas, em especial nalguns locais do Ribatejo, tendo já causado graves prejuízos”. Pelo que “importa tomar providências que evitem a propagação e a continuação da existência desta espécie”.
Hoje em dia, está registada a ocorrência desta espécie nas regiões do Douro Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo e Beira Litoral.
Para além dos danos ecológicos provocados pelo jacinto de água, Luís Romão aponta o exemplo de prejuízos ao nível da navegabilidade e da pesca no Rio Maior na zona onde recolheu as fotos. “Reduz a secção de navegação das embarcações e os peixes não sobem o rio por falta de oxigénio nas águas. Quando no Inverno chove com frequência e as águas estão mais limpas é que se vê os pescadores a colocarem as suas narsas” (espécie de rede) “no rio e algumas embarcações a navegarem”.
Haverá também prejuízos ao nível da agricultura, com obstrução de drenagem de água para rega. E ao nível da saúde pública, com a propagação de insectos propiciada pela degradação da água.
Segundo Luís Romão, a presença de espécies infestantes no Rio Maior será “consequência da falta de limpeza períodica” deste rio, “e das descargas sistemáticas de efluentes não tratados, respetivamente”.
“Reflexo da poluição do rio”
Francisco Madeira Lopes, dirigente do Partido Ecologista “Os Verdes”, aponta que a existência de jacintos aquáticos no Rio Maior será um reflexo da poluição deste rio. Indiciando que a sua “água tem demasiados nutrientes de matéria orgânica em suspensão”, a maior parte da qual, “muito provavelmente”, será proveniente de dejectos de suiniculturas e outras pecuárias que afectam este rio, no concelho de origem e no concelho de Santarém também.
Luís Romão deixou um apelo: “é necessário que entre as entidades oficiais haja interajuda para se reduzir a poluição do Rio Maior e o Rio Tejo possa beneficiar igualmente e seja um rio mais vivo. A sensibilização da sociedade civil sobre esta temática é igualmente muito relevante”.
António Costa, do Movimento Ar Puro, lamenta que a opinião pública esteja “de costas voltadas para o Rio Maior”. Considera ser necessário “as pessoas entenderem que o rio existe, que é seu, que devem cuidar dele”, e que “devem pressionar as entidades responsáveis para que actuem”.
Texto: Luis Carvalho no Jornal "Região de Rio Maior".

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