A felicidade tem vindo a ser considerada como “um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, bem-estar espiritual ou paz interior em que o sofrimento e a inquietude estão ausentes” e que abrange ainda “emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo”.
Para Rosseau é difícil ver homens felizes, mas vêem-se “muitas vezes corações contentes”, visto que a felicidade se lê no coração enquanto a alegria se lê nos olhos, no porte, no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se apercebe”, sublimando o doce prazer de “ver um povo entregar-se à alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das nuvens da vida”.
As emoções e o contentamento provocado pelo disfrute das águas que percorrem um rio numa corrente com destino de onda e desejo de mar será “fluviofelicidade”, um conceito criado pelo catedrático em Hidrogeologia e fundador da Fundaçao Nova Cultura da Água, Javier Martínez Gil, que tem tido muita aceitação entre os entusiastas dos desportos de aventura nos rios.
Este conceito pretende transmitir o prazer proporcionado pelo contacto com o meio fluvial, podendo sentir-se deslizando numa canoa pelas águas de um rio ou observando um pato que brinque às escondidas nos caniçais.
A teoria da “fluviofelicidade” defende que os rios geram “bem-estar e sentimentos de felicidade nas pessoas, sendo fontes de emoções e símbolos da vida, fertilidade, nascimento e renovação, fortemente arreigados na nossa cultura e fruto da interiorização de uma ligação especial entre o ser humano e a água que flui”.
A beleza dos rios gera bondade e transmite-nos a tranquilidade, o sossego e a liberdade de que necessitamos para alcançarmos a nossa própria felicidade interior, bem ilustrada na redenção e libertação que o Siddhartha de Hermann Hess alcança como barqueiro de um grande rio que tudo e todos percorrem, ao longo da vida e por todas as eternidades.
Defende ainda a valorização dos rios como património cultural e de identidade, sendo a sua defesa vital para as cidades e povoações situadas nas suas margens, que tendem a perder a sua personalidade quando os rios se degradam ou são desvirtuados os seus leitos.
A visão de um rio contaminado ou degradado transtorna-nos e traz-nos à consciência o vandalismo que nos rodeia, sendo um espelho de uma destruição que provoca défices de beleza que as experiências de “fluviofelicidade” podem ajudar a devolver ao proporcionarem o contacto com o melhor dos nossos rios.
Esta concepção assenta numa nova cultura da água e da vida que aponta os rios como a alma do território cuja destruição extingue a ligação do homem com o seu território.
A actividade VOGAR CONTRA A INDIFERENÇA, a realizar no próximo dia 24 de Setembro pelo protejo – Movimento Pelo Tejo, propõem-vos isto mesmo, uma descida de canoa de Constância a Vila Nova da Barquinha que será simultaneamente um tributo à conservação e à vivência da alegria festiva da “fluviofelicidade” no nosso rio Tejo.
E você está pronto para ser “fluviofeliz”?
Participe, o Tejo merece!
Paulo Constantino
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