terça-feira, 26 de julho de 2022

proTEJO denuncia que a poluição de bloom de algas (cianobactérias) de extrema toxicidade e com cheiro de putrefacto tendo origem em Espanha já chegou a Vila Velha de Ródão reforçando a necessidade de proceder a uma Queixa à Comissão Europeia

NOTA DE IMPRENSA
27 de julho de 2022

O proTEJO constatou hoje que bloom de algas (de cianobactérias – ver Caixa) identificado na barragem de Alcântara em 26 de junho do ano corrente, já chegou ao rio Tejo em Vila Velha de Ródão e irá progredir contaminando todo o rio Tejo a montante da barragem do Fratel.

                Barragem e Ponte de Alcântara

                               25/06/2022

 Créditos: DR

Ponte de Vila Velha de Ródão 
25/07/2022

Este episódio repete o que ocorrido a partir de setembro de 2021, identificado pela APA na albufeira de Cedillo no dia 7 de outubro[1], que já provinha da barragem de Alcântara, ambas em Espanha.

Foto: Bloom de algas na barragem do Fratel – 14-10-2021

Este bloom de algas resulta de vários fatores que indicamos de seguida.

Primeiro, a concentração elevada de nutrientes, nomeadamente fósforo, depositados no fundo das albufeiras da Extremadura espanhola, Azutan, Torrejon, Valdecañas, Alcantâra e Cedillo, em resultado décadas de descargas de águas residuais sem adequado tratamento e das escorrências de fertilizantes agrícolas.

Segundo, a ausência de precipitação significativa durante os 10 meses do ano hidrológico de 2021/22 não permitiu a reposição dos baixos níveis de armazenamento gerados pelo esvaziamento das barragens de Alcântara e Valdecañas de cerca de 80% da sua capacidade em 15 de março para cerca de 40% e 21% no mês de junho de 2021, respetivamente, com a finalidade de produzir energia hidroelétrica quando o preço da energia no mercado espanhol estava em níveis bastante elevados.

Lembramos que o governo espanhol colocou um processo de investigação à empresa concessionária destas barragens, a Iberdrola, pela drástica redução de água para aproveitar o elevado preço para multiplicar a sua produção hidroelétrica, cujo resultado é desconhecido até esta data.

Bloom de algas na Barragem de Alcântara - 14/09/2021

Créditos: El Periódico Extremadura

Terceiro, as condições de temperatura e luminosidade elevadas, que se ocorreram no Verão de 2021, e desde aí até hoje, em que estas barragens armazenavam pouca água em resultado do seu esvaziamento artificial criaram as condições propícias à proliferação deste bloom de algas que também dispunha dos nutrientes necessários.

Neste contexto, o proTEJO considera que o Senhor Ministro do Ambiente e Ação Climática deve exigir explicações ao seu congénere espanhol visto que esta situação constitui um agravamento adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo em Portugal em incumprimento da Convenção de Albufeira quanto à obrigatoriedade de garantir o bom estado ecológico das massas fronteiriças e transfronteiriças e em incumprimento da Diretiva Quadro da Água que impõe o objetivo de alcançar um bom estado ecológico das massas de água.

Além disso, o proTEJO considera que se encontram reforçados os fundamentos para apresentar uma Ação Judicial contra os Estados Português e Espanhol e uma Queixa à Comissão Europeia contra os governos de Portugal e Espanha assente no incumprimento da Diretiva Quadro da Água por permitirem uma gestão das barragens para a produção hidroelétrica com critérios meramente economicistas de maximização do lucro que causa uma deterioração adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo e impede que se alcancem os objetivos ambientais do nº 1 do Artigo 4º da DQA ao não assegurar um “regime hidrológico consistente com o alcance dos objetivos ambientais da DQA em massas de águas superficiais naturais” como decorre do documento de orientação nº 31 “Caudais ecológicos na implementação da Diretiva Quadro da Água”.

Demonstração em defesa de caudais ecológicos no rio Tejo

9/10/2021

O Tejo e os portugueses merecem mais ação em prol da Vida!

Bacia do Tejo, 27 de julho de 2022

Os Porta-Vozes do proTEJO,

Ana Silva e Paulo Constantino

Mais informação:

Ana Silva - +351 92 227 34 39

Paulo Constantino - +351 91 906 13 30

CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DO AMBIENTE E AÇÃO CLIMÁTICA “ORGANIZAÇÕES ALERTAM E APELAM À AÇÃO PARA LIBERTAR O RIO OCREZA DA EXTREMA POLUIÇÃO DA AGRICULTURA INTENSIVA”


CARTA ABERTA AO 
SENHOR MINISTRO DO AMBIENTE E AÇÃO CLIMÁTICA
“ORGANIZAÇÕES ALERTAM E APELAM À AÇÃO PARA 
LIBERTAR O RIO OCREZA DA
 EXTREMA POLUIÇÃO DA AGRICULTURA INTENSIVA”

Exmo. Senhor Ministro do Ambiente e Ação Climática

Duarte Cordeiro

O proTEJO – Movimento pelo Tejo, a Associação para o Desenvolvimento de Sobral Fernando (ADSF), o MAE – Movimento de Ação Ecológica e a Plataforma de Defesa da Albufeira de Santa Águeda / Marateca (PDASA) vêm apelar para a urgência de uma intervenção de V. Exa. para efetivar uma ação que ponha termo à poluição no rio Ocreza que mais uma vez se encontra extremamente poluído neste mês de julho, com um nível de eutrofização e bloom de algas significativo, episódio que se repete ano após ano, e que já denunciámos no mês de agosto do ano passado.

Esta situação ocorre após as descargas de água da barragem da Marateca (ou Albufeira de Santa Águeda) e, tal como no ano passado, foi reportado ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente - GNR e à Agência Portuguesa do Ambiente, Município de Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão e Castelo Branco.

A verdade é que sempre que ocorre uma descarga da barragem da Marateca a água fica verde, cheira mal, apresenta uma grande concentração de espuma, com zonas azuladas, cheiro fétido e borras pretas ao cimo da água, sugestivo da presença de cianobactérias como se pode observar nas imagens abaixo. As entidades alegam que a enorme descarga que efetuam na barragem da Marateca pretende manter o caudal ecológico, mas esta ocorre apenas num único momento e não com um caudal contínuo e permanente, estranhando-se esta descarga abrupta no atual ano de seca generalizada que atravessamos.

No mês de maio do ano corrente, a Plataforma de Defesa da Albufeira de Santa Águeda / Marateca (PDASA) denunciou e apresentou diversas queixas-crime ao Ministério Público por evidentes crimes ambientais que afetam a albufeira de Santa Águeda / Marateca, cujos impactos ecológicos, mais evidentes ao nível da poluição, provocaram uma mortandade de peixes e de algumas aves, nomeadamente, um pato-real morto junto à água e três cegonhas.

Lembramos que esta Plataforma considera que a Agência Portuguesa do Ambiente não agiu de forma consequente:

“Não tomou em consideração as caraterísticas desta albufeira como abastecedora de água a dezenas de milhares de pessoas e os riscos que tem a obrigação de reduzir ao mínimo. 

Permitiu o abate de árvores autóctones e agora não impõe a reposição da situação.

Permitiu o uso de pesticidas em vez de exigir um cerejal de cultura biológica que, obviamente, o proprietário não estaria interessado por se tratar de uma exploração intensiva destinada a obter o máximo lucro.

Não procurou influenciar a iniciativa empresarial orientando-a para terras afastadas da zona de proteção da albufeira.”

Considerando que a poluição da albufeira de Santa Águeda / Marateca e a descarga abrupta da barragem da Marateca está a prejudicar, ano após ano, o estado ecológico do rio Ocreza a jusante e a impedir o seu uso pelas populações ribeirinhas vimos requerer ao Senhor Ministro do Ambiente e Ação Climática que haja em prol da reabilitação da albufeira de Santa Águeda / Marateca para a qual propomos:

- a plantação de carvalhos e de outras árvores autóctones nos locais em que foram abatidas.

- a remoção do cerejal existente nas proximidades das margens da albufeira.

- a abertura dos acessos (antigos) ao plano de água que foram vedados e de acessos especiais a emergências de proteção civil.

- a prestação de informação pública sobre o que se pode fazer e não fazer, e onde, na zona reservada de 50 metros à volta da albufeira e no plano de água.

- a execução de intervenções na zona reservada que possibilitem o pleno usufruto da albufeira com atividades desportivas e de lazer autorizadas.

- a revisão do plano de ordenamento que, segundo o Plano de Ordenamento da Albufeira, devia ter sido efetuado em 2015.

O senhor Ministro do Ambiente e Ação Climática não concorda que é uma vergonha ter estes níveis de poluição no vale do rio Ocreza que apresenta uma envolvente paisagística espetacular, que abriga espécies em vias de extinção, como é o caso da cegonha preta, lagarto de cabeça azul, águia de boneli, bufo real, classificado como geoparque Naturtejo onde se integra o geomonumento do Vale do Almourão onde passa o rio Ocreza poluído prejudicando a afluência de turistas que, como se verifica nas fotos abaixo, acabam por se banharem num rio poluído?

Sobral Fernando é uma pequena aldeia do Concelho de Proença-a-Nova, mas da qual a sua população cuida, gosta e não quer poluição no seu rio. Querem voltar a ter o rio em que as pessoas bebiam água, lavavam mantas e que trazia boas memórias aos miúdos e graúdos, desejando que este rio continue a oferecer memórias igualmente boas aos seus filhos e netos.

O rio Ocreza, o rio Tejo e as suas populações ribeirinhas merecem a sua consideração, Senhor Ministro.

Atenciosamente,

Ana Louro (ADSF), Ana Silva (proTEJO), Cristiana dos Santos, José Manaças, Marcelo Cardoso e Fábio João (MAE), Manuel Costa Alves (PDASA) e Paulo Constantino (proTEJO)

Para mais informações:
Ana Louro +351 96 997 43 25
Ana Silva +351 92 227 34 39
Fábio João +351 91 457 69 66
Manuel Costa Alves +351 96 960 29 65
Paulo Constantino +351 91 906 13 30

Fotos de 19 de julho de 2022, após a descarga da Barragem da Marateca




No dia 06/08/2021, dois dias depois da descarga


Fotos tiradas no dia 02/08/2021, conforme se observa a água estava límpida, conseguiam ver-se as pedras no fundo do rio



Na quarta-feira no dia 05/08/2021 no decorrer da descarga da barragem da Marateca (turistas a tomar banho…)